Arquitetura sustentável, da planta à decoração
Na recepção, velhos batentes de madeira encontrados em caçambas de lixo tornaram-se charmosas banquetas
A arquiteta Maira Del Nero com prêmios recebidos: preocupação ambiental vai desde a planta até a gestão da obra e a decoração
Fotos: Érica Dezonne/ESPECIAL PARA AAN
Não era uma casa muito engraçada, tinha teto, tinha tudo.Não se trata de uma paródia da música de Vinícius de Morais, mas, se dependesse das arquitetas Juliana Boer e Maira Del Nero, essa moradia teria todas as exigências do proprietário e mais uma inovação: a sustentabilidade. As duas são sócias na Cria Arquitetura Sustentável, localizado no Guanabara, em Campinas é o único escritório do Interior do Estado a trabalhar com projetos de residências e estabelecimentos comerciais com preocupação ambiental, desde a planta até a decoração.
No local de trabalho das duas, montado num sobrado que foi construído na década de 30 para abrigar trabalhadores da antiga fábrica Chapéus Cury, quem chega já começa a sentir o clima que poderá ter na casa que pretende construir. Na recepção, velhos batentes de madeira encontrados em caçambas de lixo tornaram-se charmosas banquetas. Os móveis são de compensado ecológico, que, em vez de usar apenas madeira e cola, têm a parte interna preenchida com papelão reciclado, o que facilita a degradação na hora do descarte.
Se na casa do poeta não dava para dormir por falta de rede, no escritório da Cria, os estofados e as almofadas que dão o charme e o aconchego da decoração foram produzidas com algodão ecológico ou fibras naturais, como as da bananeira. Na mesa, comprada num brechó — mas não por isso velha ou antiestética —, as duas contam suas experiências. Elas se conheceram na faculdade, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), e foi lá que tiveram as primeiras aulas sobre reaproveitamento de materiais.
Em 2003, as sócias montaram o escritório e, três anos depois, foram as primeiras a apresentar numa feira de arquitetura e decoração um ambiente construído a partir das ideias de sustentabilidade. O banheiro, que tinha reaproveitamento de água e dispositivos de economia, chamou a atenção, mas foi interpretado por muita gente como algo que não vingaria.
Reconhecimento
Um prêmio nacional recebido no mesmo ano, no entanto, colocaria as duas nacionalmente na mídia especializada. Daí em diante, vieram parcerias e contatos. “Fornecedores começaram a nos procurar, oferecendo produtos que enfatizavam a responsabilidade ambiental. Da mesma forma, começaram a chegar os clientes com essa mentalidade”, afirma Maira. Mesmo quando procuradas apenas por alguém que quer paredes e teto de forma estética e prática, as duas tentam incluir no projeto e no gerenciamento técnicas de sustentabilidade. “Muitas vezes, é uma opção nossa, que o cliente não necessariamente pensou ou imaginou que pudesse existir. Faz parte da nossa filosofia de trabalho”, explica Maira.
Cursos de especialização e um mestrado na Associação Nacional de Arquitetura Biológica (Anab), onde hoje elas dão aula, deram o embasamento necessário para a dedicação exclusiva à área. “Ainda há muita falta de informação sobre o que é a arquitetura sustentável. Muita gente ainda tem uma visão limitada do que é viver em harmonia com o meio ambiente, associando esse conceito ao modo de vida hippie, o que chega a afastar as pessoas”, diz. Mas, na verdade, a arquitetura sustentável envolve um gerenciamento que passa por todas as etapas de uma obra, inclusive, pensando naquilo que geralmente ninguém tem em mente na hora de levantar uma parede: o impacto e os resíduos que ela trará caso um dia seja derrubada.
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http://cosmo.uol.com.br/noticia/56411/2010-06-23/arquitetura-sustentavel-da-planta-a-decoracao.html